quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vídeo ou cinema marginal?

Só depois de muito tempo fui me perguntar se essa marginalidade do vídeo como estética ainda existia. Ou será que essa marginalidade do vídeo foi glamourizada pelos bilhões de dólares que a sétima arte arrecada? Será que o vídeo será glamourizado com todas novas tecnologias e melhorias na definição de suas imagens? Será que daqui há algum tempo iremos todos fazer cinema, simplesmente por termos uma definição comparada à película?Não podemos nem prever essas possibilidades, e nem mesmo podemos reduzir a linguagem de vídeo e a de cinema em qualidade e quantidade de pixels. Não estamos falando apenas de suporte, mas também de linguagem audiovisual.


“Já houve um tempo que o vídeo correspondia a uma prática significante marginal, às vezes até clandestina, tornando-se depois, com sua expansão e consolidação, um meio hegemônico, solidamente implantado no tecido social. O vídeo está hoje em todos os lugares, generalizado sob a designação mais ampla de audiovisual.” Essa fala de Arlindo Machado, e seus livros publicados sobre o assunto, preenchem bem algumas lacunas no mercado editorial que expõe a história do vídeo no Brasil e também falam um pouco sobre a documentação que compõem a trajetória da reflexão sobre o audiovisual no país e sua saída para um espaço generalizado.
Por estar cada vez mais consolidado em todos os lugares e possivelmente mais afastado da “margem” da produção audiovisual, não necessariamente o vídeo está se glamourizando, mas talvez se popularizando. Se existe uma “reação” do cinema ao vídeo, talvez por conta dessa manifestação popular, podemos dizer que sim. O cinema está se dirigindo para esta suposta “marginalização” para chegar à popularização.
Logicamente ainda estamos assistindo muitas discussões teóricas e práticas em torno desse assunto que vem desde a década de 80.
De forma que, as discussões sobre o assunto ressaltam um certo fetiche pela legitimação social e institucional que o cinema carrega. Diferentemente da crise de legitimidade do vídeo no seu início, e que hoje pode ser encontrada no campo da internet. A “web-arte” pode ser um exemplo disso.


O site Youtube ou o Vimeo que ainda esperam por uma definição feita por teóricos de plantão, traz consigo sua própria definição de compartilhar vídeos. Além disso, esse tipo de site é um cinemateca gigantesca. Mas assim como no vídeo, dos anos 80, esse espaço de web também está sendo incorporado ao cinema de alguma forma, afinal trata-se de produções caseiras dividindo espaço com produções megalomaníacas. É de fato, bem interessante você produzir um vídeo caseiro de cinco minutos e dividir o mesmo site de busca com um grande diretor hollywoodiano. Já estamos num outro espaço quando falamos de vídeo “marginalizado”. Independentemente da qualidade das produções, existem pontos em comum: o imediatismo e o perecível estão presentes em cada uma das milhares de postagens de vídeos na web. Será que essa quantidade assustadora de vídeos no Youtube que Arlindo Machado se referia quando falou que o vídeo está hoje em todos os lugares e absolutamente generalizado?


Fabrício Porto

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