segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Depoimento de Clarice Steil Siewert

Ser atriz carrega um certo romantismo. As pessoas acham fantástica a possibilidade de “viver” várias personagens diferentes. E de fato isso é muito interessante. Para mim, o que mais interessa no trabalho é “rechear” a personagem, aprofundá-la, conhecê-la. A gente pega uma descrição simples de algumas linhas: idade, profissão, onde vive e transforma isso em ação, em jeito de andar, de falar. No caso da Solange, há algo muito marcante, ela é uma prostituta. Isso te leva para um universo muito rico, porém também perigoso. Cair numa ideia rasa do que é ser prostituta é muito fácil. Por isso, procuro nesse trabalho construir a Solange antes como mulher, buscando a complexidade de sua trama, em como os acontecimentos vão marcando suas decisões, atitudes e drama interno. Ela é prostituta, mas também já se apaixonou, já brigou, está cansada e carrega suas feridas. Como tudo isso aparece em cena ao mesmo tempo, numa única fala? Não é só o texto que dá conta. É o trabalho de “rechear” a personagem.


Outra coisa que gosto é criar os rituais da personagem. E isso é algo que provavelmente não aparece no trabalho final. Mas para mim é meu apoio, é onde me divirto trabalhando. Pensar nos detalhes, nas unhas pintadas, em qual brinco ela usa, como ela ajeita o cabelo. É um exercício constante de sair das minhas escolhas e do meu jeito pessoal de lidar com as coisas e situações. É quase uma brincadeira. O que ela faria nessa situação? E isso começa desde o momento que me convidaram para o papel. Então se me perguntarem quanto tempo eu trabalhei em cima da Solange, digo que foi um mês de ensaio e gravações, mas mais de um ano de imersão. Ela tem me acompanhado há bastante tempo.

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